domingo, 6 de abril de 2008

SP tem 400 casos de dengue não registrados

O Estado de São Paulo teve no primeiro trimestre deste ano ao menos 402 casos a mais de dengue do que o número divulgado pelo governo, aponta levantamento da Folha em 164 dos 645 municípios paulistas. A Secretaria da Saúde diz que atualiza os dados tão logo os recebe dos municípios. Já as prefeituras alegam que o atraso na consolidação é do Estado.


O dado apurado representa alta de 30,99% sobre os 1.297 casos notificados de janeiro a março pelo Estado e divulgados no último dia 28. Mesmo contando os casos não computados, os números são bem inferiores aos do mesmo período do ano passado (44.760).


A queda --de 97,1%, segundo o Estado-- foi anunciada em tom de comemoração pelo governo na segunda, quando foi lançada a Semana de Mobilização Social Contra a Dengue.


No mesmo dia, o governo se calou sobre a primeira morte do ano por dengue no Estado. Uma garota de 18 anos morreu em fevereiro por complicações da dengue na Praia Grande (litoral de SP). A secretaria diz que a morte tinha sido confirmada três dias antes.
A Folha telefonou para 164 prefeituras pedindo os números de casos confirmados (autóctones e importados de outras cidades) até o dia 28 de março --último dia contabilizado no balanço do Estado. Em 55 delas houve diferenças.


A maior divergência ocorreu em Ribeirão Preto, que, em vez dos 175 casos informados, já tinha 234. "Apesar de tecnicamente não ser uma epidemia, a situação é preocupante", disse o secretário municipal da Saúde, Oswaldo Cruz Franco.


Mogi-Guaçu (com 176 casos, 20 a mais que o registrado pelo Estado) vive um estado de epidemia. "É comum a defasagem", diz a bióloga da prefeitura Cristiana Monteiro Ferraz, que diz considerar a diferença um problema de atualização.


Segundo o Ministério da Saúde, uma epidemia se configura quando há 300 casos por 100 mil habitantes.


Araraquara (com 384 casos confirmados até o dia 28) registra surto. Na última sexta, a cidade tinha 472 casos --o maior número do Estado. Quando atingir 600 casos, o total passa a representar uma epidemia.


Em outros 11 municípios --onde não havia casos da doença, segundo o Estado-- a Folha encontrou 57.


"O município coloca os dados no sistema, mas não sabemos por que o Estado demora tanto para atualizá-los", diz Sérgio Rumin, coordenador do combate à dengue em Sumaré.


Comentário semelhante fez Luiz Ricardo Cortez, responsável pelo centro de controle de zoonoses de Bauru, quando questionado sobre o motivo pelo qual a cidade tinha 49 casos de dengue enquanto o sistema do Estado apontava três. "Eles demoram para atualizar."
Para o infectologista e epidemiologista Luiz Jacinto da Silva, o atraso na atualização das informações é fruto de uma "burocracia atrapalhada". "É a informação que demora para chegar e ser consolidada. Não é propriamente má-fé."


Do ponto de vista epidemiológico, segundo ele, a diferença de dados não atrapalha. "Só tem importância para quem gosta de falar que os casos caíram 10%, 15%, 20%."


Segundo Silva, "todo mundo sabe" que os casos notificados e confirmados são uma fração dos que efetivamente existem. "Em geral, sabemos que existem, no mínimo, o dobro."

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